domingo, 28 de fevereiro de 2010

A Sexualidade e o Cristianismo

As sociedades ocidentais sempre reprimiram o sexo, pressionadas pelas religiões monoteístas, sobretudo pela Igreja Católica, que alimenta o dogma da função meramente reprodutiva. Por outro lado, são sociedades mais abertas, em que as idéias circularam livremente. Mas, há acentos diferentes nos diferentes contextos histórico-culturais, tratando-se da Igreja Católica. Ao longo dos anos, há períodos de diferentes representações. Por isso, temos que estar conscientes dessas diferentes tônicas.
Com tudo, o Vaticano vive sobre o “fio da espada” entre a realidade e o dogma. Seus fiéis, se seguirem a doutrina, só praticarão sexo com a finalidade de procriar. A obra de referencia das religiões ocidentais, a Bíblia, em muitas interpretações trata o sexo como pecado e coisa suja, algo que deve ser expiado. Pode ser isso a causa de tantos episódios sangrentos ligados ao sexo no Antigo Testamento.
Talvez o grande acontecimento na vida privada dos ocidentais, nas últimas décadas de século XX, foi o surgimento de um erotismo totalmente estranho ao sistema cultural judaico-cristão. A cultura judaico-cristã considera o sofrimento uma virtude e o prazer, um pecado. O controle do prazer das pessoas é uma forma de controlá-las. O prazer sexual sempre foi visto como o mais perigoso de todos os pecados, por pertencer à natureza humana e atingir a todos sem exceção. Portanto, é o mais controlado.
Na Idade Média o ato sexual no casamento só era isento do pecado se não houvesse prazer entre o casal. Se o homem desejasse a esposa, estaria cometendo um verdadeiro adultério. E como a mulher desvincularia, então, o orgasmo da procriação? Boa pergunta...
Todavia, nem sempre a Igreja Católica expressa muito bem suas instituições. A Igreja teve uma intuição da ambivalência da sexualidade humana, pois pode esta ser caminho tanto de realização como de frustração, tanto de comunhão como de dominação, tanto de construção como de destruição, dependendo apenas de como trabalhamos nossa sexualidade. E quando ela é vista, compreendida e vivida em profundidade, torna-se um caminho da graça, do amor e da realização humana.
Mas, então, o que ainda há de errado no prazer sexual? Por que ainda existe tanta repressão? Uma explicação possível está no fato de que, quanto mais o individuo vai ampliando , aprofundando e diversificando sua vida sexual, mais coragem ganha para fazer outras coisas, questionar outros valores. Vive, assim, com maior vontade e decisão. O que pode ser tornar perigoso. Com as grandes transformações na moral sexual, homens e mulheres passaram a não acreditar mais, conscientemente, no ato sexual como um pecado. Mas, há muita coisa ainda no inconsciente e o sexo continua sendo um problema complicado e difícil, com muitas dúvidas. Ainda se acredita que o sexo é uma coisa impura e nada humana. Enfim, não foram poucos os séculos de repressão.
Não há duvidas que o legado deixado a nós pela Bíblia é decisivo, extenso e forte, que perpetua ao longo de nossa história mesmo depois de mais de 3000 anos do início de sua escrita. Significá-la até hoje é um exercício indecifrável, para poucos, se é que há alguém que, realmente, foi capaz disso. Precisamos lembrar que Jesus nos ensinou sobre o amor, nada mais sublime que desfrutar do amor puro e verdadeiro, mesmo que para isso haja o desejo carnal e a completude através da realização do ato sexual. Afinal de contas, Deus nos fez seres sexuados!



Gaiarsa JA. Poder e prazer. Ágora, 1986.
Moser A. Religião e seus posicionamentos. In: Giumbelli, E. (Org.). Religião e Sexualidade: convicções e responsabilidades. (p. 21-25). Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
Lins RN. & Braga F. O livro de ouro do sexo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Entrevista com Helen Fischer para a Revista ÉPOCA

- Os laços do orgasmo

Antropóloga explica por que o clímax reforça o vínculo entre os parceiros
Autora do livro Why We Love, lançado nos Estados Unidos, a antropóloga Helen Fischer revela como o prazer sexual moldou a espécie humana.

HISTÓRIA - Helen Fischer examina a evolução do êxtase


ÉPOCA - Qual o papel do orgasmo?

Helen Fischer - Para os homens, fica claro que é para levar o sêmen à vagina. Teoricamente as mulheres podem procriar sem orgasmo. Alguns biólogos acham que o orgasmo feminino não representa nenhuma vantagem evolutiva, como os mamilos no homem. Já eu tenho outro ponto de vista.

ÉPOCA - Qual é então a função do orgasmo feminino?

Helen - A incerteza de que ele venha a acontecer é fascinante. Alguns pesquisadores vêem nisso um mecanismo defeituoso. Creio que é exatamente na incerteza que reside a vantagem evolutiva.

ÉPOCA - Que vantagem?

Helen - O orgasmo é uma das experiências sensoriais mais bonitas. As mulheres dão preferência aos homens com as quais chegam ao ápice. O orgasmo é um instrumento para as mulheres medirem a devoção do parceiro. Um homem que pacientemente a ajuda a chegar ao clímax aumenta as chances de que ela permaneça interessada nele. Ela sabe que a longo prazo o homem será o parceiro atencioso que zelará por ela e pela família.

ÉPOCA - O homem não está apenas satisfazendo o próprio ego quando garante o orgasmo da parceira?

Helen - Não. O orgasmo fortalece a parceria. Quando ele ocorre, o corpo libera oxitocina e vasopressina. Essas substâncias reforçam o vínculo entre mães e recém-nascidos e também o compromisso dos adultos depois de ocorrer o ato sexual.

ÉPOCA ED. Nº 342 = 06/12/04 = MATÉRIA DE CAPA

Um pouquinho sobre SEXUALIDADE HUMANA

Há pouco tempo, a sexualidade ainda era considerada expressão de “baixos instintos animais”, que deveriam ser combatidos, subjugados e controlados. Foi nas últimas décadas do século XX que aconteceu nas sociedades ocidentais um conjunto de transformações profundas e aceleradas nos valores, normas e práticas sociais sobre as questões da sexualidade. Alargou-se o repertório sexual, diversificaram-se as normas e trajetórias da vida sexual, multiplicaram-se os saberes e as representações da sexualidade. As transformações sociais mais globais, as mudanças produzidas na mentalidade e nas instituições mais relacionadas, a conjugalidade e o campo das relações familiares, foram construindo e modelando a sexualidade humana e as suas regras morais. Isto não quer dizer que as investigações cientificas tenham superado as questões que envolvem a sexualidade, ao contrario, ainda há uma grande necessidade em compreender a sexualidade à luz de pesquisas cientificas.
Ainda vivemos numa época em que a temática sobre sexualidade está num patamar difícil, pois nossa sociedade tem se mascarado numa liberdade aparente em relação ao sexo. A chamada liberdade sexual não implica ausência de conflitos relacionados à sexualidade, mas sim a possibilidade em lidar com tais conflitos havendo o mínimo de desgaste emocional, medo e outros transtornos decorrentes do uso da sexualidade. Mesmo no século XXI, há questionamentos sobre posturas, valores, atitudes e relacionamentos, que merecem maior compreensão e pesquisas, pois o exercício da sexualidade deve ser encarado com consciência.
A vivência da sexualidade está diretamente relacionada à forma pela qual os valores e as práticas sociais são percebidas e incorporadas pelos sujeitos, refletindo as diferentes culturas que coexistem nas sociedades. Hoje, sabemos que a sexualidade é uma característica inerente ao ser humano, desde a vida intra-uterina até o final de sua existência, constituindo-se numa forma de expressão que reflete o contexto sociocultural no qual o sujeito está inserido e se desenvolve. É parte integrante da personalidade do indivíduo.


Abdo CHN. Sexualidade Humana e seus transtornos. 2a ed. São Paulo: Lemos Editorial; 2001.
Bozon, M. Sociologie de Ia sexualité, s.I., Nathan/VUEF, 2002.
Vilar D. A educação sexual faz sentido no actual contexto de mudança? Educação Sexual em Rede, 1, 2005.
Zampieri MC. O sexo na universidade: um estudo sobre a sexualidade e o comportamento sexual do adolescente univesitário. São Paulo: Arte & Ciencia, 2004.
Melo ASAF, Santana JSS. Sexualidade: Concepções, valores e condutas entre universitários de biologia da UEFS. Revista baiana de saúde pública, 29(2), 2005.