quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

(Des) orientação


Às vezes me pego pensando: o mundo está se transformando e o ser humano não é capaz de acompanhar tantas transformações, ou o mundo continua estático e é o ser humano que anda a marcha ré da evolução?
Sócrates tinha toda razão quando disse “só sei que nada sei”, passei anos construindo respostas para minhas dúvidas, tentando compreender com conhecimento o inteligível e no fim das contas percebo que a medida que minhas dúvidas são respondidas, surge uma nova gama de outras dúvidas. Acreditei piamente na construção do conhecimento, mas hoje percebo que ela é hipotética. Quanto mais sólidos seus pilares se erguem, mais necessária se torna sua desconstrução.
Ninguém estranharia se eu falasse sobre meu fascínio sobre o humano, mais precisamente, sobre homens e mulheres. E estes últimos são, sem dúvidas, a primeira e mais importante distinção humana, que ‘ganhamos’ de acordo com um dado fisiológico. Até aí tudo bem, porque não vou desconstruir aqui essa história tão antiga da cissura homem e mulher... O foco é outro!
 O que quero dizer é simples assim: Quem disse que um homem deixa de ser mais homem porque assume seu desejo por pessoas do mesmo sexo biológico? Ou que uma mulher deixa de ser mais mulher por gostar de pessoas que possuam o mesmo ‘dado fisiológico’ que o seu?
A única relação que ser homem ou mulher tem com orientação sexual, é ao que tange o objeto sexual, ser homem ou mulher, no sentido de ser do mesmo sexo ou não. Orientação vem de desejar sexualmente. E então, a modernidade se encarregou de categorizar esta também. Mais que isso, associou a dinâmica dos jogos e prazeres sexuais à lógica reprodutiva, contribuindo para a instituição da heterossexualidade, quando se deseja alguém do sexo oposto, como um padrão ‘normal’ de orientação sexual. A busca incessante do discurso científico por distinguir o normal do patológico caracterizou o sexo como um campo de batalha onde se confundem a moral cristã, os interesses econômicos da burguesia e a própria ciência. Consequentemente, o que foge da determinação ortodoxa é tido como excluído da sociedade ‘normal e sadia’. E assim que é vista a homossexualidade, ou melhor, as diversas formas de sexualidade.
E é neste ponto que eu digo para desconstruir o conhecimento. Na pré-história desconhecia-se o vínculo entre sexo e procriação e a noção de casal. Hoje vivemos por rotulagens. Buscam-se respostas à origem da homossexualidade. Mas, alguém sabe sobre a origem da heterossexualidade?
Ao pensar em 2 sexos, macho e fêmea, cria-se a falsa estática da monossexualidade, onde se categoriza simplificadamente: hetero, homo e bissexual. Kinsey já dizia “o mundo em que vivemos é contínuo em todos e em cada um dos aspectos”. Ele mesmo apresentou uma escala que tenta descrever o comportamento sexual de uma pessoa ao longo do tempo e em seus episódios num determinado momento. Observe-a.




Já faz muitos anos que Kinsey apresentou isso ao mundo. E atualmente, ainda insiste-se em categorizar. A tecnologia, a informação, o conhecimento, a globalização transformaram o mundo. E o ser humano tem dado conta disso? A homossexualidade é muito mais antiga de que se pode imaginar. O fato é que nunca foi tratada com tanto preconceito, como atualmente. Volto à questão da desconstrução do conhecimento, principalmente quando se fala de ser humano. O ser humano não é estático como uma máquina. O ser humano fala a singularidade, sente a unicidade. É a verdadeira descategorização. Ninguém é nada além do que apenas é...







Viva 2013!